Segunda-feira, 30 de Março de 2009

POBRE SEM TÚMULO

“Formariz – um pouco de história” e “Vida e morte de uma pobrezinha – a sua triste odisseia” são títulos de um artigo fascinante do “Notícias de Coura” de 15 de Novembro de 1957, assinados pelo ilustre formaricense Alfredo Marinho.

Conta o autor que, no lugar da Maceira, terá morado uma senhora, Maria Alberta, que nada tinha de seu e era conhecida por “Hispaina”. Entregando-se à mendicidade, a sua morada era uma caverna aberta sob uma barreira, sendo o óculo de entrada tapado com trapos e tábuas velhas. Depois de muitos sofrimentos e padecimentos, a que ninguém acudiu, a 7 de Maio de 1817, Maria Alberta foi encontrada sem vida no interior da caverna. Terá vivido 76 anos, uma longa existência tendo em conta a sua dura vida de miséria. Tal como tantos pobres e mendigos daquela altura, o corpo da “Hispaina” foi transportado no esquife paroquial até à sepultura do adro da igreja, onde antes de ser coberta pela terra foi amortalhada num lençol.
Alfredo Marinho conta-nos que dois formaricenses, de seus nomes, Bacelar e Germano (residentes nos lugares de Estrada e Outeiro, respectivamente), cheios de “piedade e caridade” resolveram colocar sobre a sua sepultura uma pedra tumular, com a seguinte inscrição: “Nasci, vivi e morri pobre/ Para mim não houve felicidade/ Até a lousa que me cobre/ Foi dada por caridade”. Anos depois, quando se reformou o adro e a igreja paroquial (1893?), bem como a torre sineira, a pedra tumular da sepultura de Maria Alberta foi servir de soleira na porta principal do templo. Com o decorrer dos anos, desapareceu a inscrição que tinha sido na lavrada na pedra.
Artigo publicado no Jornal Notícias de Coura, n.º 138, de 24 de Março de 2009
Publicado por Eduardo Daniel Cerqueira às 16:27
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2 comentários:
De Jofre Monteiro Alves a 30 de Março de 2009 às 21:00
Mais um pedaço da nossa história arrancada ao esquecimento, desta feita para lembrar o humanismo de dois courenses – um deles era meu antepassado – condoídos com a miséria alheia. Dou-lhe os parabéns por este labor persistente e consistente.
De Luís Alves de Fraga a 4 de Abril de 2009 às 10:16
Estória interessante de ser recontada e recordada, porque hoje em dia, num tempo de muito maior abundância, provavelmente não haveria ninguém capaz de gastar uns cobres para arranjar uma pedra tumular. Aliás, a própria estória nos dá conta de como os tempos se foram modificando, pois algum pároco já mais moldado por valores da modernidade de então resolveu usar a pedra na soleira da igreja.
Os actos falam por si.

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