Sexta-feira, 1 de Junho de 2007

Recordando o ilustre padre Clemente Ramos

 

Quando no passado dia 7 de Abril, actuou no Centro Cultural de Paredes de Coura o Orfeão Universitário do Porto, fui alertado para uma anterior ligação desta instituição académica a Paredes de Coura. Falaram-me de uma passagem por nossas terras há algumas décadas atrás, e que já nessa altura se falou num courense que esteve ligado aos primeiros tempos do então Orfeão Académico do Porto. Depois de algumas consultas, a minha dúvida dissipou-se, e eis que me deparo com uma figura que há algum tempo vinha a estudar e admirar: Padre Dr. Clemente Ramos. Sabia que tinha nascido no Lugar de Casalteiro, em Insalde, a 25 de Março de 1885. Aprofundei um pouco a investigação, e é isso que vos trago aqui num pequeno resumo, da sua vida, e especialmente da sua ligação ao Orfeão. Clemente Ramos tirou Teologia e Direito Canónico na Universidade Gregoriana de Roma, e aí se ordenou, em 14 de Março de 1908. Após o seu regresso, regeu aulas de Teologia no Seminário de Braga, trabalhando seguidamente nas Dioceses de Portalegre, Porto (época do Orfeão) e Évora, onde nesta última, exerceu o professorado de Teologia. Voltando a Paredes de Coura, foi pároco da Vila e arcipreste. Aqui faço uma pausa, pois como é costume consultei a minha enciclopédia viva particular, minha avó Helena, que recordou o sacerdote como sendo uma pessoa muito educada, que visitava a nossa casa da Calçada pontualmente. A grande dúvida foi saber se foi ele quem a casou, já não se lembra, mas foi no ano do seu matrimónio (1946), que o sacerdote procedeu ao lançamento da primeira pedra da nova Igreja Matriz. Esta obra só se iniciaria em Maio de 1958, sendo pároco da Vila, Nunes de Abreu, e, a 3 de Agosto de 1959 deu-se a abertura da primeira pedra por conveniência, sendo mudada para o Arco Cruzeiro. A pedra continha moedas de cada espécie (em circulação-1946), sendo que o Dr. Clemente voltou a colocá-las de novo na dita pedra, e na sua presença foi cimentada. Em 1947, foi nomeado capelão do Asilo Soares Pereira, nos Arcos de Valdevez. Justamente neste concelho, encontramos alguns episódios da sua vida, pois no Santuário de N. Sra. da Peneda, na sua romaria, pregou durante mais de 30 anos seguidos, era um brilhante orador sagrado. A ele também se devem as músicas do terço, tradicionalmente cantado na Peneda, como se vê possuía notáveis recursos musicais, daí não é de espantar a regência artística do Orfeão da Universidade do Porto e do Seminário de Évora. Depois da permanência por solo arcuense, tornou ainda a trabalhar para a Arquidiocese de Évora, onde também foi professor de Moral no Liceu. Em 1968 passou a residir no Centro Paulo VI, em Darque e, depois, no Hospital de Santa Cruz, de Braga, onde faleceu tendo tido exéquias solenes na Igreja de Santa Cruz, presididas pelo arcebispo D. Francisco Maria da Silva (curiosamente foi ele, então bispo-auxiliar, que a 5 de Maio de 1963, inaugurou a nova Igreja Matriz da Vila). Os seus restos mortais repousam no cemitério paroquial de Insalde. Conhecida a sua biografia, vamos resumidamente falar da ligação ao Orfeão. O Orfeão Universitário do Porto foi fundado em 6 de Março de 1912, cerca de um ano após a criação da Universidade do Porto. De 1922 a 1924 assume o cargo de Director Artístico do Orfeão. Seriam dos melhores anos do Orfeão e da Tuna (dirigida por Modesto Osório), pois nesta altura entre outras o grupo actuou no país irmão, “o escopo da longa e cuidadosa preparação do coral, agora sob a direcção do Dr. Clemente Ramos, era uma excursão a Espanha, pelo mês de Maio, com récitas e um passeio a Toledo”. Foram tempos de “Coroação do Orfeão e Tuna Académica por terras de Madrid e Galiza em que se glorificaram as figuras do Dr. Clemente Ramos e Dr. Modesto Osório”. A 14 de Maio de 1922 foram recebidos pelo monarca espanhol, que lhes dirigiu palavras de elogio. Agora falo de um episódio curioso: a Tuna e o Orfeão resolveram dar uma récita ao ar livre num jardim de Madrid, sendo que a bilheteira acusou uma receita de milhares de pesetas, por unanimidade decidiu-se que o dinheiro fosse entregue às autoridades madrilenas para o distribuir pelos pobres. O contentamento e admiração das gentes daquela cidade foi tanto que “alguns componentes deste grupo musical tiveram de andar acompanhados para que não os raptassem”. Enfim, foi uma jornada triunfal. Em 1922, Dr. Clemente discursa na receptação do Norte aos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Mas os componentes do Orfeão eram reconhecidos, e numa reunião em 1923, deliberaram homenagear Clemente Ramos, que recebeu um passe dos caminhos-de-ferro, de segunda classe, de Espinho (bem me dizia o falecido Sr. Gomes de Castro que Clemente Ramos foi morador em Espinho) ao Porto, e ainda, uma carteira artística contendo um cheque de mil escudos e um álbum com o nome, impressões e terra natal de cada orfeonista. A direcção da associação, por sua vez, em assembleia-geral de 28 de Novembro de 1923, propôs que ao Dr. Clemente fosse concedida a categoria de sócio honorário, resta referir que a proposta foi aprovada por aclamação. Aqui fica alguma da biografia de um grande e ilustre filho de Insalde, logo de Paredes de Coura, feita com muito gosto e admiração, ficará por aqui a memória ao padre Dr. Clemente Ramos?

 

Publicado por Eduardo Daniel Cerqueira às 08:32
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11 comentários:
De geraldomarcosr a 12 de Julho de 2007 às 02:55
Eduardo Cerqueira
Fiquei muito contente ao encontrar um artigo sobre um parente distante (Pe. Clemente Ramos) e querido dessas terras portuguesas que tanto admiro.
Já estive quatro vezes em Portugal e em uma destas viagens consegui encontrar a terra de meus avós, Paredes de Coura e Insalde. Costumo procurar sites que falem sobre essas cidades.
É bom poder conversar com pessoas distantes e fazer novas amizades.
Gostei muito do seu blog e serei visita constante.
Abraços, parabéns e felicidades. Geraldo Marcos Ramos- Brasil
De alexandre marques ramos a 17 de Abril de 2015 às 03:34
Olá geraldo,
Também sou parente do padre Clemente Ramos(sobrinho neto), ao ouvir meu pai contar mais uma vez sobre seu tio, resolvi jogar o nome dele no google e encontrei essa referência com o seu comentário. Meu pai foi batizado com o nome do tio, em sua homenagem. Está com 80 anos. Você é de qual ramo da familia? Meu pai nasceu no Casalteiro e emigrou para o Brasil em 1950 com 15 anos, retornou a Portugal 40 anos depois, para visitar os parentes, voltou mais duas vezes. Mas agora a idade só permite histórias...
De Miguel Patrocínio a 30 de Agosto de 2015 às 14:42
Boa tarde Alexandre Ramos,

Fiquei surpreendido com o facto do seu pai ser sobrinho neto do padre clemente ramos. Desconhecia tal facto, pois a minha mãe (Teresa" das Lages" e também sobrinha neta dele, por ser filha da Maria das Lages que era casada com um irmão do padre clemente.
O meu nome é Miguel Patrocínio, sou da família também, sou neto da idalina Freitas, e bisneto da Maria das Lages, se pudermos entrar em contacto agradecia, pois é sempre importante conhecermos e aprofundarmos as nossas raízes, e conhecer família
De alexandre Ramos a 27 de Abril de 2016 às 00:09
Olá
Eduardo,
Podemos manter contato pelo email: alexandremarquesramos@hotmail.com, não consegui comunicação pelo SAPO. Se vir esta mensagem me responda,

Abraços,
De alexandre Ramos a 27 de Abril de 2016 às 00:24
Olá José, somente agora vi os comentarios no blog SAPO. Aqui no Brasil não temos esse blog, por isso não tenho habito de olhá-lo. Meu pai lembrou de sua avó e de outras pessoas da familia. Ele veio para o Brasil com 15 anos(por volta de 1950), depois de 35 anos de trabalho ininterrupto se aposentou e voltou 3 vezes a Portugal a passeio. Está com 81 anos, com boa saúde uma excelente memória. Se puder me contacte pelo email: alexandremarquesramos@hotmail.com ou pelo facebook:
Alexandre Marques Ramos - Rio de Janeiro - Brasil
De alexandre Ramos a 27 de Abril de 2016 às 00:28
Desculpe troquei o nome, o correto é Miguel do patrocinio.
De Teresa Pais a 30 de Agosto de 2015 às 20:02
Olá Alexandre
É com surpresa que leio que é sobrinho neto do Padre Clemente Ramos .
Acontece que eu também o sou .A minha avò Maria das Lajes era casada com um irmão do Sr Padre .
A minha avó teve dois filhos :Idalina e Alcides.Eu sou filha da Idalina.
E já agora, mâe do Miguel
Caso leia esta mensagem ....contacte-me por favor ....prazerespais @sapo.pt
Obrigada
Teresa Pais
De alexandre Ramos a 27 de Abril de 2016 às 00:16
Ola Teresa, somente agora visualizei sua mensagem, não tenho blog no SAPO. Podemos nos contactar pelo email: alexandremarquesramos@hotmail.com ou pelo facebook. Alexandre Marques Ramos. Se vir esta mensagem faça contato, conversei com meu pai Clemente de Freitas Ramos e ele se lembra de sua avó Maria das Lages e de outras pessoas da familia.
Abraços
De Paulo Pereira a 20 de Março de 2020 às 09:25
Bom dia.
A minha mãe tem 85 anos e recorda-se que na sua infância o padre Clemente Ramos esteve na freguesia de Cristóval, concelho de Melgaço.

Gostaria de saber se é possível certificar essa informação e se existe documentação fotográfica.

Ficaria muito agradecido se me pudesse fornecer alguma informação.

Muito obrigado.

Paulo Pereira
De Julio Ramos a 16 de Maio de 2016 às 12:05
Orgulho de um familiar . Pelo visto a familia e grande .
De mj a 6 de Abril de 2017 às 17:22
Procurei este nome na internet por mera curiosidade. Deparei-me com uma folha timbrada que diz" Para deputado Clemente Ramos presbytero e professor" que era do meu tio avô, padre da mesma altura, estudou no seminário de Braga entre 1886(?) e 1900, que faleceu, pelo que vi aqui 5 ou seis anos antes. Foram contemporâneos de certeza. Quis saber a data a que cincorreu a deputado para datar o papel timbrado que tenho. Fica com mais este pequeno contributi para a biografia. Devem existir elementos com mais consistencia na diocese da braga.
Obrigada.

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