
António Martins Esteves cumpre o seu terceiro mandato como vereador da Educação na Câmara Municipal de Paredes de Coura e em entrevista ao "AltoMinho" fala da "reacção negativa" quando foi construído o Centro Escolar e que hoje é uma escola "com os melhores resultados". O também vice-presidente do Município fala ainda dos projectos futuros nomeadamente ao nível do pré-escolar e de Creches.
Entrevista: Lúcia Soares Pereira
AltoMinho - Como vai o sector da Educação em Paredes de Coura?
António Martins Esteves - Temos feito todas as tentativas para que vá bem e temos desenvolvido muitos projectos ao longo destes anos que culminaram no Centro Escolar que temos. O nosso propósito era a concentração do primeiro ciclo num espaço, porque verificamos que ao longo dos anos a população escolar ia reduzindo cada vez mais. Chegamos a ter escolas com um aluno e um professor, o que é inconcebível nos tempos de hoje até pela socialização dos alunos, pelo isolamento e a impossibilidade de colocar em prática projectos pedagógicos consolidados. Fomos trabalhando com os professores, com os pais, autarcas ao ponto de chegarmos à conclusão que deveríamos encerrar as 27 escolas que tínhamos, nas 21 freguesias do concelho. e concentrar todos os alunos numa única escola. Estamos a falar de 324 alunos no ano corrente, um racio de freguesia/aluno muito baixo.
AM - Hoje justifica-se essa opção e construção do Centro Escolar?
AME - Pensamos que sim. Na altura contámos com alguma reacção negativa de alguns agentes. Toda a mudança leva a críticas. As pessoas são receosas pela mudança e nós fomos determinados nesta política e avançamos. Hoje, se quiséssemos voltar à primeira forma, as pessoas já não admitiriam, porque as instalações são óptimas, as crianças têm todo o tratamento personalizado desde que saem de casa até que chegam. Estamos a falar de transportes específicos para o primeiro ciclo, de carrinhas entre 12 e 24 lugares, com vigilantes, alguns dos quais, da Escola Secundária. Há uma junção de alunos com alunos o que nos leva a personalizar muito os transportes. Fazemos a recolha praticamente de porta a porta e a criança chega à escola e só sai dali ao final do dia. Isto não acontecia nas freguesias, porque se o professor faltasse teriam de regressar a casa e poderiam correr perigos. A escola está aberta desde as 8 horas até às 17h30 e há sempre alguém que toma conta das crianças. Para além das actividades lectivas temos as actividades de enriquecimento curricular com vários agentes. As crianças têm o tempo todo ocupado, têm segurança na escola e têm um acompanhamento personalizado. É um sossego para os pais e os meninos chegam a casa quando os pais já estão em casa. É também uma escola com dimensão a nível de alunos e de professores, o que leva a um desenvolvimento de melhores projectos. Estamos num agrupamento em que as pessoas estão mais juntas, não estão isoladas e é, de facto, uma escola que tem dado os melhores resultados. A nossa escola também tem uma unidade de inserção educativa com professores muito empenhados que fazem o acompanhamento permanente de quatro crianças com necessidades educativas muito especiais. O empenho e dedicação daquela gente é formidável.
AM - O Centro Escolar tem a funcionar a vertente de Jardim de Infância?
AME - Temos uma turma de Jardim de Infância (JI). O Centro foi conseguido para duas turmas, mas a Direcção Regional de Educação do Norte (DREN) entendeu que de momento só deveria funcionar uma turma de JI.
AM - É suficiente ou faria falta iniciar uma nova turma?
AME - Se abrisse mais uma turma teríamos crianças para isso. No entanto, neste momento também estamos a reestruturar a rede de pré-escolar. Estamos a falar dos quatro JI da rede pública que ainda temos nas freguesias mais o da vila, mas que vamos reestruturar. Depois temos uma IPSS que também tem pólos nas freguesias e a Santa Casa da Misericórdia que também tem na vila. A nível de pré-escolar temos cobertura a 100 por cento. Sentimos necessidade de reestruturar devido ao número reduzido de crianças por freguesia e que obriga a deslocações.
AM - Em que vai consistir esse reordenamento?
AME - Estamos neste momento a pensar fazer apenas três pólos. Vamos encerrar alguns JI e remodelar instalações desactivadas. Temos uma candidatura já aprovada para esse efeito e brevemente vamos lançar o concurso público para que aproveitemos quer escolas do primeiro ciclo, quer JI já existentes para os ampliar e dar-lhes melhores condições, com sala de acolhimento, refeitório, cantina. Aproveitando as instalações desactivadas é também uma forma de aproveitar património que temos. Vamos fazer três pólos em pontos estratégicos do concelho. Um ficará para a rede pública, na freguesia de Mozelos, ficará um na freguesia de Rubiães e outro em Cristelo. Estes dois últimos está a pensar-se entregar à IPSS, que é o OUSAM (Organismo Utilitário e Social de Apoio Mútuo). O JI da Santa Casa continuará sediado na vila e vamos procurar dar uma resposta, dar melhores condições físicas e dimensão aos próprios JI.
AM - Este projecto está previsto para quando?
AME - Até já deveria estar feito. A candidatura foi aprovada só que a comparticipação do Ministério da Educação (ME) era um pouco reduzida para o projecto que nós concebemos. Tendo colocado este problema aos serviços da DREN foi-nos dito que não havia mais dinheiro e, então, o que fazemos é reformular o projecto. Em vez de fazermos um projecto tão caro, vamos fazer mais barato mas com a mesma qualidade em termos de valências. As valências não reduzem, mas talvez os materiais a usar sejam mais baratos, mais adequados a este tipo de construção. É nesse sentido que estamos agora a reformular e a ver se brevemente lançamos o projecto. Gostaríamos que no início do próximo ano lectivo já tivéssemos isto a funcionar. Vamos ver se o conseguimos.
AM - E no que diz respeito a creches quais são os projectos?
AME - Temos dois projectos comparticipados e já aprovados. Neste momento temos duas creches, uma na freguesia de Mozelos, no Centro Social e Paroquial, e outra na Santa Casa da Misericórdia, instituições privadas. Queremos ter creches na rede pública. A creche para a freguesia de Cosssourado está aprovada, bem como para a freguesia de Castanheira. Estamos a falar de duas zonas onde há alguma actividade industrial e pensamos nestas zonas para que os pais ao irem para o seu local de trabalho deixem as crianças na creche e no final do dia os possam ir buscar.
AM - Qual será a capacidade destas creches?
AME - Será para 25 crianças cada uma. Tínhamos pensado numa terceira creche para a freguesia de Formariz mas não foi aprovada, não foi comparticipada. O que não quer dizer que não a venhamos a fazer, mas temos de ver se conseguimos uma candidatura para tal. Pensamos que com estas estruturas já conseguimos dar uma resposta mais ou menos adequada. Queremos ter uma maior oferta para depois a decisão ser tomada pelas famílias.
AM - E quando entrarão em funcionamento estas duas creches?
AME - Também estamos a falar de recuperação de instalações que estão desactivadas. Vamos reaproveitar a escola de Castanheira, que é muito bonita e fica muito bem localizada. Na freguesia de Cossourado também se trata de uma escola e da sede da Junta de Freguesia. Estamos a pensar colocar a sede da junta na escola e reconverter o espaço da junta em creche, porque também tem lá o Centro Social e Paroquial. Gostaríamos que começasse a funcionar também no início do próximo ano lectivo. É esse o nosso objectivo.
AM - Em Paredes de Coura tem havido um decréscimo da Taxa da Natalidade?
AME - Neste momento, pelos estudos que temos, está estabilizada. Dos anos 70 até aos 90 houve um decréscimo e daí a razão de nos preocuparmos e termos tomado todas estas medidas na área da educação. Neste momento, já começa a sentir-se um ligeiro aumento e isto talvez porque existam mais casais jovens a fixarem-se em Paredes de Coura, o que nos agrada muito.
AM - O primeiro passo para a responsabilidade da autarquia na gestão do sector da educação foi a construção do Centro escolar?
AME - Sim, não tivemos receio e avançámos e nessa altura não havia medidas governamentais para comparticipação e avançámos com dinheiros nossos e, entretanto, é que começaram a abrir as candidaturas. Candidatámo-nos posteriormente e foi um projecto comparticipado, embora num valor bastante reduzido. Estamos a falar de um Centro Escolar que todos os dias nos dá muita despesa, mas que entendemos que é um grande investimento no nosso concelho. Valeu a pena. As crianças sentem-se satisfeitas e felizes. É uma escola com alegria, muito colorida. Há alguns problemas, naturalmente que sim, e no início deste ano lectivo especulou-se muito sobre a falta de pessoal auxiliar. Mas nós também temos regras e não podemos colocar pessoal de qualquer forma. Neste momento a situação está estabilizada e pensamos que com este contrato de execução que fizemos com o ME, em que nos deram possibilidade de contratação de mais auxiliares, que vamos resolver o problema. Nós estamos atentos e também temos a classe do professorado muito motivada para esta situação, o próprio conselho executivo tem sido muito colaborador connosco e há uma acção conjunta onde todos nos empenhamos e penso que conseguimos levar a nau a bom porto.