Quinta-feira, 23 de Julho de 2020

Até um dia, Zé da Marnota!

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Há artigos que são dolorosos de redigir, este é um deles… Não por dificuldades de escrita ou de pensamento, mas sim porque nos vamos referir a alguém que nos foi muito próximo e já não está, fisicamente, entre nós. É desta forma agridoce que noticiamos o desaparecimento do mundo dos vivos, no passado dia 12 de junho de José Cândido Chouzal Nogueira, o nosso tão querido e amigo “Zé da Marnota”. Marnota, esse lugar/quinta de Formariz, sua terra natal onde nasceu em 12 de março de 1941, filho de Esmeraldo de Jesus Alves Nogueira e de Maria Cristina Chouzal. Nogueira, apelido que nos indica a sua ascendência ilustre, pois descendia do 1.º Visconde de Mozelos, e Chouzal sobrenome também sobejamente conhecido neste rincão, com origem no lugar paredense de Santa. Claro que nunca vimos,nem ouvimos, o Zé da Marnota puxar dos galões devido à linhagem, pelo contrário, era na simplicidade que ele estava bem, e sempre se pautou por valores de igualdade nos mais variados campos.   

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Aquando da sua despedida, foram centenas ou courenses, e não só, que se associaram à dor da família enlutada. Com as medidas restritivas de participação em cerimónias fúnebres, falamos obviamente de todas as mensagens de condolências registadas nas redes sociais, onde todos recordavam a fineza de trato, o respeito, a educação, a simplicidade, o grande sentido altruísta que caracterizavam a sua maneira de ser.

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Também nós NC, estamos de luto, uma vez que José Cândido Chouzal Nogueira foi sócio-fundador da Azevinho - Cooperativa Para A Promoção Cultural de Paredes de Coura, logo também deste periódico. Mas não se pense que esta é a primeira ligação que teve com a imprensa, no já longínquo ano de 1975, mais precisamente em 03 de janeiro, foi publicado o primeiro número do jornal “Coura Livre”, quinzenário regionalista e noticioso, do qual era director José Cândido Chouzal Nogueira. No último dia de 1978 seria publicada a última edição do Coura Livre, e como devem entender, este período assinala os acontecimentos dos primeiros anos da vida democrática a nível concelhio.

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Por falar em período democrático, José Cândido Chouzal Nogueira integrou a Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Paredes de Coura, presidida por Armando Bernardino Figueiredo no pós 25 de Abril, em 1975. Curioso, um empregado de escritório, aos 34 anos, assumir a função de vogal na Câmara Municipal, só demonstra que o Zé era querido pela população (recordamos que esta comissão foi votada e decidida no salão do antigo quartel dos bombeiros). Nas listas do Partido Socialista, onde sempre militou José Cândido Chouzal Nogueira, foi candidato vencedor à vereação, nos 2.º, 3.º, 4.º e 5.º mandatos do presidente José de Sousa Guerreiro, ou seja nas eleições autárquicas de 1979, 1982, 1985 e 1989. De igual forma, acompanha o presidente Pereira Júnior nos seus 1.º, 2.º e 3.º mandatos, que resultaram das eleições autárquicas de 1993, 1997 e 2001. Sempre na sombra, por sua opção, o Zé tinha um jeito especial de estar na política, muito fiel aos seus pares, e a ele devemos ,pessoalmente, muitos ensinamentos. Soube, variadas vezes, escutar mais do que falar, e agir mais do que falar. Como alguém escreveu nas redes sociais:” O concelho perdeu um dos grandes autarcas em tempo de democracia. Tinha nele uma confiança ilimitada. Sempre cordial, serviu a todos com uma capacidade de trabalho inigualável. Grande a nossa perda.”

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Na função de autarca temos de destacar a sua participação na Comissão de Festas do Concelho, a que presidiu por vários anos. Eram outros tempos, em que se tinha de dar o corpo ao manifesto, fazer peditórios, montar todas as estruturas, mas que resultavam num brilhantismo sem igual. Quantas horas, quantas noites perdidas…, mas quanta alegria, quanto bairrismo, quanta cidadania por ele eram demostrados!

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José Cândido Chouzal Nogueira foi também, durante alguns meses, presidente do Conselho de Administração da ADEMINHO/EPRAMI.

 

O seu amor por Paredes de Coura era, sem dúvida, desmedido e colocava a nossa terra acima de tudo mais, se assim não fosse, ao longo do seu percurso, não teria feito parte de tantas instituições e coletividades concelhias.

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Homem religioso, sempre recatado, foi muitas vezes a alma mater de vários projetos e concretizações nesse campo. Não tinha vergonha de assumir publicamente a sua Fé, e vestia uma opa ou transportava alguma alfaia litúrgica durante as procissões, grande exemplo. A comunidade paroquial de São Pedro de Formariz que o diga, ele estava sempre presente. Já muito debilitado devido à doença que o acometeu, ainda ano passado assistiu à passagem da procissão da Sra do Livramento, de quem tinha muita devoção. O Zé da Marnota foi um grande trabalhador da Confraria, fazendo parte de várias administrações, e deixando obra bem visível, sempre com o máximo bom gosto. Também por variadas vezes, ajudou na realização da festa da Sra da Purificação, a Sra que se venera no Monte de Irijó. E quantos trabalharam com ele, sempre num espírito harmonioso, devido em grande parte à sua característica de cativar os que o rodeavam.

 

Devido à ligação da família Nogueira à devoção a Nossa Senhora da Pena em Mozelos, foi por várias vezes juiz da festa da padroeira do concelho.

 

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A sua terra natal também contou com a participação dele no campo desportivo. Recordamos o seu desempenho como futebolista no Formariz Atlético Clube, e depois como dirigente nunca chegando, por vontade própria (o Zé era assim) a ser presidente da direção. Quantas episódios vividos no Campo do Côto… “É a lei do funil, sr. árbitro” vociferava ele, através justamente de um funil, alto e bom som, quando não lhe agradava alguma decisão do juiz da partida. Em 2018, aquando da participação de Formariz nas festas do concelho, lá estava o Zé da Marnota a representar-se a si mesmo!

  

A nível desportivo, fez parte ainda de alguns corpos sociais do Sporting Clube Courense, chegando a ser presidente da direção de 1973 a 1975, os primeiros anos de filiação do SCC na Associação de Futebol de Viana do Castelo.

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Lembraremos para sempre o Zé da Marnota no antigo escritório da Empresa de Transportes Courense, onde trabalhava, situado na Rua Heróis do Ultramar. Subindo as escadas ingremes de madeira, lá nos esperava sempre com um sorriso e com dois dedos de conversa. O Zé era um diplomata, sabia bem que não é com vinagre que se apanham moscas.

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Depois da tão merecida reforma, passou a dedicar-se a tempo inteiro aos seus clientes, pois era representante de uma companhia de seguros, e à gerência do Comércio de Motociclos Courense (fundado em 1981).

 

Resta-me dizer que o Zé da Marnota foi, tal como muitos dos jovens do seu tempo, combatente no Ultramar, mais precisamente em Moçambique.

 

E agora o mais importante, a família, por quem empreendeu toda a dedicação como é obvio. Era casado há 45 anos com Aurora Barbosa Nogueira, enfermeira aposentada, e pai da Patrícia e do Pedro. Avó da Gabriela, do Nuno, da Filipa e da Inês e sogro de Filipe Alves e Gorete Nogueira. A história do Zé tem assim continuidade!

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Zé, falamos muito vezes deste momento da despedida, como seria e como estarias preparado. Foste um cidadão exemplar, era bom que fossemos todos assim. Tinhas um coração enorme, viverás para sempre nos nossos! Descansa em paz AMIGO.

 

in Jornal Notícias de Coura, 23 de junho de 2020, edição 389

Publicado por Eduardo Daniel Cerqueira às 15:41
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