Uma vez mais fomos brindados pelo nosso amigo dr. Manuel Sá Marques com uma imagem de antanho. Consideramos este retrato bastante interessante, pois nele podemos observar duas personagens que marcaram Formariz no século passado. Como já dissemos nestas páginas Bernardino Machado, aquando do seu segundo exílio, fixou residência no Palacete de Mantelães, propriedade herdada por seu sogro Miguel Dantas Gonçalves Pereira.
Como é óbvio, durante essa permanência várias foram as figuras ilustres que visitaram o antigo Presidente da República. É precisamente num desses actos de cortesia, no dia do nonagésimo aniversário de Bernardino Machado, em 28 de Março de 1941, que o aniversariante foi fotografado a conversar animadamente com o então pároco de São Pedro de Formariz, reverendo António Luís da Cunha Coutinho, conhecido ainda nos dias de hoje por Abade Coutinho. É sobre este eclesiástico que hoje falaremos mais pormenorizadamente, esperando que sejamos secundados por outros escrevedores. António Luís da Cunha Coutinho, nasceu em Formariz, na década de 80 do século XIX e era filho de Francisco Bernardo da Cunha Coutinho e de Ana Rita Brandão. Na Capela de Nossa Senhora do Livramento celebrou a sua Missa Nova em 23 de Agosto de 1903, e como era prática de então foi-lhe concedida a paroquialidade de São Pedro de Formariz, sendo nomeado por carta do Rei D. Carlos em 7 de Novembro de 1907.
Este sacerdote marcou indubitavelmente a vida formaricense na primeira metade do século XX, e convém relembrar que foi uma época bastante atribulada, com as quezílias que o país viveu nos últimos tempos da Monarquia, a implantação da República e os tempos conturbados da 1.ª República, com as relações conturbadas entre a Igreja e o Estado e depois o período do Estado Novo. Como guia dos católicos de Formariz foi notável o seu papel pastoral, existindo ainda actualmente frutos do seu trabalho e dedicação. Mas a sua influência foi muito mais além do campo religioso, alongando-se também à parte social e política do concelho.
Quando Miguel Dantas, apoiado pelo Partido Regenerador, perde as eleições municipais em Novembro de 1904 a favor do Dr. António Cândido Nogueira, que encabeçava uma lista conjunta do Partido Regenerador Liberal e do Partido Progressista, acontecimento que muito o debilitou (o ilustre Conselheiro faleceu a 8 de Junho de 1905), o Abade Coutinho esteve sempre a seu lado, apoiando-o e fazendo parte da lista de candidatura derrotada. Ao lado de várias figuras ilustres, entre as quais o seu conterrâneo e irmão no sacerdócio Dr. Narciso Alves da Cunha, fez parte do núcleo fundador da Liga de Instrução de Paredes de Coura, no longínquo ano de 1908. Após a Implantação da República outros cargos foram desempenhados pelo presbítero, de entre os quais podemos destacar a presidência do Senado da Câmara Municipal, e a participação na Comissão Executiva da Câmara Municipal, fazendo também parte das Mesas Administrativas da Irmandade do Asilo de Nossa Senhora da Conceição, da Santa Casa da Misericórdia de Paredes de Coura, e das Confrarias do Divino Espírito Santo e de Nossa Senhora do Livramento.
Há 55 anos, mais precisamente no dia 29 de Abril de 1957, na condição de abade emérito de São Pedro de Formariz, António Luís da Cunha Coutinho entregou a alma ao Criador.
In Jornal Notícias de Coura, 15 de Maio de 2012