"Sanatório Presidente Carmona
Sua inauguração em 16 de Setembro de 1934
A pouca distância da Vila, região ubérrima e encantadora em que casa admiravelmente a beleza idílica da paisagem com a diafaneidade e rutilâncias dum céu de esmeraldas, eleva-se majestoso o monte da Pena, sobre que assenta, no espaldar suave da encosta a uma altitude aproximadamente de 400 a 500 metros, repassado de uma unção de carinho e benemerências o Sanatório para ferroviários do Estado.
Se as montanhas não tivessem já aquela força mágica, atractiva que nos encanta e seduz, a Pena, com o seu aspecto risonho e o seu Sanatório majestoso, longe do tumultar das paixões humanas, no silêncio profundo, que só a música da Natureza interrompe, dar-nos-ia a impressão que deixámos a Terra a Caminho do Céu.
Alcandorada garbosamente no vasto planalto de Coura, assentada no seu pedestal de glória, rodeada de casais agrícolas, brancos, muito brancos, a contrastar com o verde escuro da relva, matizada aqui e além pela meiguice de uma flor e perfumada pela suavidade deslumbrante do rosmaninho, a Pena apresenta-se cheia de sugestiva e omnímoda elegância, emoldurada num fundo de maravilhas que é todo o concelho de Paredes de Coura.
Mais altos motivos porém impõe à consideração de todo este local abençoado. Porquanto, apenas surge nas noites escuras da vida das encruzilhadas dos revezes, como fantasma aterrador, a tuberculose pavorosa logo o Sanatório, recentemente inaugurado no monte da Pena, freguesia de Mozelos, se levanta como aurora bendita a derramar nos corações amargurados dos humildes e beneméritos ferroviários torrentes de paz e sorrisos.
Era a 16 de Setembro, Festa explendente, convidativa. O sol, radiante e belo, já no declínio batia em cheio nas rasgadas janelas do Sanatório e com os seus raios filigranados de luz suavíssima banhava profusamente os seus amplos salões. Queria também compartilhar da festa e imprimir-lhe aquela animação e graça que só o Minho sabe interpretar quando se trata de engrandecer as virtudes másculas da raça portuguesa.
Paredes de Coura, hospitaleira e acolhedora, movimenta-se e cerrando fileiras em volta daqueles que trabalham pelo engrandecimento da terra, vai ali render, por entre aplausos, as suas homenagens aos intrépidos timoneiros que orientam a nau do Estado e levar os seus parabéns, as suas saudações aos ferroviários do Estado. As portas do Sanatório abrem-se de par em par, para a todos receber com o mesmo carinho, com a mesma solicitude.
Gente humilde do povo, pessoas de representação e da alta sociedade no nosso meio, irmanados na mesma elevação de pensamento, vão ali unir seus coros de louvores aos, encantos da Natureza exuberante e emprestar às solenidades inaugurais um pouco daquela alegria moça, que inunda as almas.
O snr. Dr. Monteiro Barros justifica a ausência dos senhores Ministros das Obras Publicas e Chefe de Governo e logo a seguir a snr.ª D. Laura Paul descerra duas lápides comemorativas. Houve discursos inflamados, vibrantes, cheios de fé e patriotismo. Falaram os snrs. Dr. Monteiro de Barros, Dr. Matos Rodrigues, Dr. Lobo Alves; Luís Alves da Costa, delegado dos ferroviários; engenheiro Branco Cabral; o director clínico do Sanatório, Dr. Fonseca Monteiro e por último o Dr. António Emílio de Magalhães.
Este orador focou com acerto o principal e fundamental problema em volta do qual gravitam todos os demais: a higiene e o salário.
De facto, enquanto se não olhar com os olhos de ver para os proletários, enquanto se não fizerem substituir as suas choupanas imundas, os antros cavernosos e asfixiantes, por habitações higiénicas e asseadas; enquanto se não levar à fábrica um pouco de caridade cristã e de justiça social, não haverá redenção possível; enquanto o Estado Novo não desfizer um a um todos os princípios velhos e liberais, levantar sanatórios é um bem, mas não é enfrentar a momentosa questão social que tanto preocupa os espíritos.
No final houve um Porto de Honra que deu lugar à troca de amistosos brindes e saudações ao Chefe do Estado."
in Jornal “O Courense” n.º 303, de 30 de Setembro de 1934
(Sanatório Presidente Carmona, inaugurado em 1934, na foto ainda só com um pavilhão).