Quinta-feira, 7 de Agosto de 2008

Recordar- Inauguração do Sanatório Presidente Carmona

"Sanatório Presidente Carmona
 
Sua inauguração em 16 de Setembro de 1934
 
 
A pouca distância da Vila, região ubérrima e encantadora em que casa admiravelmente a beleza idílica da paisagem com a diafaneidade e rutilâncias dum céu de esmeraldas, eleva-se majestoso o monte da Pena, sobre que assenta, no espaldar suave da encosta a uma altitude aproximadamente de 400 a 500 metros, repassado de uma unção de carinho e benemerências o Sanatório para ferroviários do Estado.
Se as montanhas não tivessem já aquela força mágica, atractiva que nos encanta e seduz, a Pena, com o seu aspecto risonho e o seu Sanatório majestoso, longe do tumultar das paixões humanas, no silêncio profundo, que só a música da Natureza interrompe, dar-nos-ia a impressão que deixámos a Terra a Caminho do Céu.
Alcandorada garbosamente no vasto planalto de Coura, assentada no seu pedestal de glória, rodeada de casais agrícolas, brancos, muito brancos, a contrastar com o verde escuro da relva, matizada aqui e além pela meiguice de uma flor e perfumada pela suavidade deslumbrante do rosmaninho, a Pena apresenta-se cheia de sugestiva e omnímoda elegância, emoldurada num fundo de maravilhas que é todo o concelho de Paredes de Coura.
Mais altos motivos porém impõe à consideração de todo este local abençoado. Porquanto, apenas surge nas noites escuras da vida das encruzilhadas dos revezes, como fantasma aterrador, a tuberculose pavorosa logo o Sanatório, recentemente inaugurado no monte da Pena, freguesia de Mozelos, se levanta como aurora bendita a derramar nos corações amargurados dos humildes e beneméritos ferroviários torrentes de paz e sorrisos. 
Era a 16 de Setembro, Festa explendente, convidativa. O sol, radiante e belo, já no declínio batia em cheio nas rasgadas janelas do Sanatório e com os seus raios filigranados de luz suavíssima banhava profusamente os seus amplos salões. Queria também compartilhar da festa e imprimir-lhe aquela animação e graça que só o Minho sabe interpretar quando se trata de engrandecer as virtudes másculas da raça portuguesa.
Paredes de Coura, hospitaleira e acolhedora, movimenta-se e cerrando fileiras em volta daqueles que trabalham pelo engrandecimento da terra, vai ali render, por entre aplausos, as suas homenagens aos intrépidos timoneiros que orientam a nau do Estado e levar os seus parabéns, as suas saudações aos ferroviários do Estado. As portas do Sanatório abrem-se de par em par, para a todos receber com o mesmo carinho, com a mesma solicitude.
Gente humilde do povo, pessoas de representação e da alta sociedade no nosso meio, irmanados na mesma elevação de pensamento, vão ali unir seus coros de louvores aos, encantos da Natureza exuberante e emprestar às solenidades inaugurais um pouco daquela alegria moça, que inunda as almas.
O snr. Dr. Monteiro Barros justifica a ausência dos senhores Ministros das Obras Publicas e Chefe de Governo e logo a seguir a snr.ª D. Laura Paul descerra duas lápides comemorativas. Houve discursos inflamados, vibrantes, cheios de fé e patriotismo. Falaram os snrs. Dr. Monteiro de Barros, Dr. Matos Rodrigues, Dr. Lobo Alves; Luís Alves da Costa, delegado dos ferroviários; engenheiro Branco Cabral; o director clínico do Sanatório, Dr. Fonseca Monteiro e por último o Dr. António Emílio de Magalhães. 
Este orador focou com acerto o principal e fundamental problema em volta do qual gravitam todos os demais: a higiene e o salário.
De facto, enquanto se não olhar com os olhos de ver para os proletários, enquanto se não fizerem substituir as suas choupanas imundas, os antros cavernosos e asfixiantes, por habitações higiénicas e asseadas; enquanto se não levar à fábrica um pouco de caridade cristã e de justiça social, não haverá redenção possível; enquanto o Estado Novo não desfizer um a um todos os princípios velhos e liberais, levantar sanatórios é um bem, mas não é enfrentar a momentosa questão social que tanto preocupa os espíritos.
No final houve um Porto de Honra que deu lugar à troca de amistosos brindes e saudações ao Chefe do Estado."
 

 in Jornal “O Courense” n.º 303, de 30 de Setembro de 1934

(Sanatório Presidente Carmona, inaugurado em 1934, na foto ainda só com um pavilhão).

Publicado por Eduardo Daniel Cerqueira às 14:40
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1 comentário:
De Jofre de Lima Monteiro Alves a 8 de Agosto de 2008 às 21:00
Urge encontrar um destino para aquelas instalações, antes que a degradação tomo conta e transforme a edificação em monturo e ruínas.

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