Depois de doze anos como vice-presidente e quatro como presidente, Alberto Silva foi de novo reeleito para um mandato de quatro anos como timoneiro da Rádio Valdevez. Como em equipa que ganha não se mexe, a aposta na continuidade trará com toda a certeza ainda mais sucesso ao grupo que, liderado pelo conhecido comunicador natural do Porto e há muito radicado nos Arcos, comanda os destinos da Rádio Valdevez. “A informação local e regional cai continuar a ter um papel preponderante, não esquecendo que pretendemos manter as rondas pelos três concelhos de aproximação, Arcos de Valdevez, Ponte da Barca e Paredes de Coura”, explicou Alberto Silva ao NC.
in Jornal Notícias de Coura, edição n.º 155, 12 de Janeiro de 2010
Quando no passado dia 7 de Abril, actuou no Centro Cultural de Paredes de Coura o Orfeão Universitário do Porto, fui alertado para uma anterior ligação desta instituição académica a Paredes de Coura. Falaram-me de uma passagem por nossas terras há algumas décadas atrás, e que já nessa altura se falou num courense que esteve ligado aos primeiros tempos do então Orfeão Académico do Porto. Depois de algumas consultas, a minha dúvida dissipou-se, e eis que me deparo com uma figura que há algum tempo vinha a estudar e admirar: Padre Dr. Clemente Ramos. Sabia que tinha nascido no Lugar de Casalteiro, em Insalde, a 25 de Março de 1885. Aprofundei um pouco a investigação, e é isso que vos trago aqui num pequeno resumo, da sua vida, e especialmente da sua ligação ao Orfeão. Clemente Ramos tirou Teologia e Direito Canónico na Universidade Gregoriana de Roma, e aí se ordenou, em 14 de Março de 1908. Após o seu regresso, regeu aulas de Teologia no Seminário de Braga, trabalhando seguidamente nas Dioceses de Portalegre, Porto (época do Orfeão) e Évora, onde nesta última, exerceu o professorado de Teologia. Voltando a Paredes de Coura, foi pároco da Vila e arcipreste. Aqui faço uma pausa, pois como é costume consultei a minha enciclopédia viva particular, minha avó Helena, que recordou o sacerdote como sendo uma pessoa muito educada, que visitava a nossa casa da Calçada pontualmente. A grande dúvida foi saber se foi ele quem a casou, já não se lembra, mas foi no ano do seu matrimónio (1946), que o sacerdote procedeu ao lançamento da primeira pedra da nova Igreja Matriz. Esta obra só se iniciaria em Maio de 1958, sendo pároco da Vila, Nunes de Abreu, e, a 3 de Agosto de 1959 deu-se a abertura da primeira pedra por conveniência, sendo mudada para o Arco Cruzeiro. A pedra continha moedas de cada espécie (em circulação-1946), sendo que o Dr. Clemente voltou a colocá-las de novo na dita pedra, e na sua presença foi cimentada. Em 1947, foi nomeado capelão do Asilo Soares Pereira, nos Arcos de Valdevez. Justamente neste concelho, encontramos alguns episódios da sua vida, pois no Santuário de N. Sra. da Peneda, na sua romaria, pregou durante mais de 30 anos seguidos, era um brilhante orador sagrado. A ele também se devem as músicas do terço, tradicionalmente cantado na Peneda, como se vê possuía notáveis recursos musicais, daí não é de espantar a regência artística do Orfeão da Universidade do Porto e do Seminário de Évora. Depois da permanência por solo arcuense, tornou ainda a trabalhar para a Arquidiocese de Évora, onde também foi professor de Moral no Liceu. Em 1968 passou a residir no Centro Paulo VI, em Darque e, depois, no Hospital de Santa Cruz, de Braga, onde faleceu tendo tido exéquias solenes na Igreja de Santa Cruz, presididas pelo arcebispo D. Francisco Maria da Silva (curiosamente foi ele, então bispo-auxiliar, que a 5 de Maio de 1963, inaugurou a nova Igreja Matriz da Vila). Os seus restos mortais repousam no cemitério paroquial de Insalde. Conhecida a sua biografia, vamos resumidamente falar da ligação ao Orfeão. O Orfeão Universitário do Porto foi fundado em 6 de Março de 1912, cerca de um ano após a criação da Universidade do Porto. De 1922 a 1924 assume o cargo de Director Artístico do Orfeão. Seriam dos melhores anos do Orfeão e da Tuna (dirigida por Modesto Osório), pois nesta altura entre outras o grupo actuou no país irmão, “o escopo da longa e cuidadosa preparação do coral, agora sob a direcção do Dr. Clemente Ramos, era uma excursão a Espanha, pelo mês de Maio, com récitas e um passeio a Toledo”. Foram tempos de “Coroação do Orfeão e Tuna Académica por terras de Madrid e Galiza em que se glorificaram as figuras do Dr. Clemente Ramos e Dr. Modesto Osório”. A 14 de Maio de 1922 foram recebidos pelo monarca espanhol, que lhes dirigiu palavras de elogio. Agora falo de um episódio curioso: a Tuna e o Orfeão resolveram dar uma récita ao ar livre num jardim de Madrid, sendo que a bilheteira acusou uma receita de milhares de pesetas, por unanimidade decidiu-se que o dinheiro fosse entregue às autoridades madrilenas para o distribuir pelos pobres. O contentamento e admiração das gentes daquela cidade foi tanto que “alguns componentes deste grupo musical tiveram de andar acompanhados para que não os raptassem”. Enfim, foi uma jornada triunfal. Em 1922, Dr. Clemente discursa na receptação do Norte aos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Mas os componentes do Orfeão eram reconhecidos, e numa reunião em 1923, deliberaram homenagear Clemente Ramos, que recebeu um passe dos caminhos-de-ferro, de segunda classe, de Espinho (bem me dizia o falecido Sr. Gomes de Castro que Clemente Ramos foi morador em Espinho) ao Porto, e ainda, uma carteira artística contendo um cheque de mil escudos e um álbum com o nome, impressões e terra natal de cada orfeonista. A direcção da associação, por sua vez, em assembleia-geral de 28 de Novembro de 1923, propôs que ao Dr. Clemente fosse concedida a categoria de sócio honorário, resta referir que a proposta foi aprovada por aclamação. Aqui fica alguma da biografia de um grande e ilustre filho de Insalde, logo de Paredes de Coura, feita com muito gosto e admiração, ficará por aqui a memória ao padre Dr. Clemente Ramos?