Mão amiga fez-nos chegar a imagem que hoje publicamos, datada de 1960. Dois elementos do extinto Rancho Folclórico das Lavradeiras de Formariz, de seu nome Judite Araújo e Augusta Amorim, devidamente trajadas como se pode observar. Nunca é demais relembrar este agrupamento que tanta alegria espalhou pela região e ainda hoje é recordado com saudade e nostalgia. Esperamos trazer até ao leitor mais fotografias, para isso contamos com a boa vontade de quem as possui e nos permita digitalizá-las, operação feita em breves instantes. A título de curiosidade quisemos ir mais além e pesquisar na internet sobre este grupo. No museu digital da RTP, nos arquivos da Emissora Nacional, referente a um programa de informação chamado “Diário Sentimental”, em 9 de Junho de 1963, encontrámos o seguinte: “Organizado pelo Grupo Folclórico Camponês de Bico, realiza-se no dia 16, em Vascões (Paredes de Coura), o segundo festival folclórico de Santo António. Tomam parte no festival os grupos folclóricos de Lavradeiras de Formariz (Paredes de Coura), Bravães (Ponte da Barca), Vila Verde, Vila de Paredes de Coura, Lavradeiras de São Martinho da Gandra, Casa do Povo de Santa Cruz do Bispo (Matosinhos) e Camponês de Bico (Paredes de Coura).”
In Jornal Notícias de Coura, 24 de Julho de 2012
Festival Nacional de Folclore, integrado nas Festas do Concelho
14 de Agosto de 2011
Grupo Etnográfico de Paredes de Coura
Grupo Folclórico da Delegação da Cruz Vermelha Portuguesa de Braga
Rancho Folclórico São Simão de Mamarrosa – Oliveira do Bairro
Associação Cultural Recreativa e Desportiva de Paredes de Coura
e
Grupo Etnográfico de Paredes de Coura
Rua Dr. José Gomes Moreira, n.º 8 2.º Esq.
4940–536 Paredes de Coura
Telem: 937371088 (Francisco Sousa)/937371122(Cristina Barreiro)
Amigo leitor, vem daí comigo para uma viagem diferente, ao longo de décadas, com várias etapas, um só percurso! Vem daí conhecer melhor a vida de Bento Macedo, mestre de concertina, e também da terra que o viu nascer. Vem daí à freguesia de Vascões, ao lugar histórico da Giesteira!
«(…) Mas é certo, que por mais que os olhos queiram procurar outros assuntos, eles não deparam senão com essa luxuriosa natureza, fecundada e boa, que instintivamente nos recorda todas as felizes abundâncias da propriedade, as eiras cobertas pelo milho, os rebanhos nédios, os frutos saborosos, o leite puríssimo, os linhos corando sobre a relva húmida dos prados. É isto o que é e sempre foi Coura. (…)» in Vieira, José Augusto; “O Minho Pitoresco”
Bento Fernandes Macedo, nasceu a 26 de Abril de 1950, no lugar da Giesteira, freguesia de Vascões, concelho de Paredes de Coura, distrito de Viana do Castelo. Pelo que conta nas suas histórias, não foi muito longe da introdução que inicia este texto, que conheceu todo o concelho de Paredes de Coura. Hoje já não é bem assim, fruto do tempo e do progresso. Mas para sua felicidade, o lugar onde nasceu ainda está muito bem conservado, cabe-te a ti, leitor, fazer uma visita á Giesteira, e de lá admirar o mais lindo carvalhal da Europa, deixa-te envolver pela natureza, aproveita todos os segundos neste “ Éden “ perdido. Talvez fruto desse ambiente, nasceu e viveu neste lugar, uma personagem histórica conhecida ainda hoje como o Padre Giesteira, ou sábio da Giesteira (Séc.XVII). Devido ás suas múltiplas virtudes, e ao seu dom de notável orador sagrado, conseguiu protectorado para a sua casa e para o seu lugar. Quase até aos dias de hoje, a Giesteira gozou desses privilégios, como costuma contar Mestre Bento, ninguém entrava ou passava por lá, sem antes pedir licença, ficando também este lugar a ser refúgio de foragidos, de pobres, de desprotegidos. Vai à Giesteira leitor, descobre a casa do Sábio, vai ver a Capela da Sr.ª da Conceição, vai ver as casas, os alpendres, os palheiros, onde na infância Mestre Bento convivia com os pobres que por lá se alojavam, e com eles comia da marmita de alumínio, a pobre refeição de bocados de pão esmigalhado com água. Outros tempos…! Desde a infância, Bento Macedo, ficava entusiasmado com os sons das concertinas, pedindo aos tocadores da época que o deixassem experimentar. O resultado foi o rápido assimilar das notas soltas, próprias desse instrumento musical.
A primeira concertina
Aos nove anos de idade foi-lhe oferecida uma velha concertina, por um amigo de seu pai, vindo de Lisboa, que passava férias na Giesteira. Imagina leitor, a cara de felicidade daquele menino! Num passado já longínquo, realizavam-se em Vascões, grandiosas festas em honra de Stº António. Bento recorda com saudade desses tempos, onde não faltavam os bailaricos, e onde se reunia uma grande multidão de forasteiros, ainda hoje se canta uma música própria dessa romaria. Era também no adro da Capela dedicada àquele Santo que se dava anualmente a uma prática tradicionalista: reza a história, que no dia da Espiguinha, armava-se um baloiço, num carvalho do adro. Quem lá se balouçasse ficava protegido durante todo o ano de maleitas da cabeça. Em 1958, dá-se nas terras de Coura, o ressuscitar das festas concelhias, e logo se efectua um concurso de ranchos folclóricos. Várias foram as freguesias que se apresentaram a concurso, entre as quais Vascões, e a vizinha freguesia de Bico, cada qual com o seu bairrismo típico! Devido à semelhança das suas músicas, danças e trajes, resolveu-se em 19 de Março de 1959, unir-se esforços, sendo assim, houve a união das duas freguesias num só agrupamento, que tomou o nome de “ Grupo Folclórico Camponês de Bico “, o qual ao longo dos anos levou bem longe o nome de Paredes de Coura. Este agrupamento era considerado por todos como um dos melhores a nível nacional, e chegou a conquistar diversos primeiros lugares em concursos folclóricos, dentro e fora do concelho. Deves estar a interrogar-te acerca da designação de “ camponês “, mas é de fácil explicação: foi-lhe dado esse nome porque, a maioria dos seus elementos trabalhava na actividade agrícola, principal actividade do concelho de Coura naquela altura, chegando mesmo a ser conhecida como “ Celeiro do Minho “. Aos onze anos de idade, o menino Bento começou a tocar ao lado dos tocadores do Grupo Folclórico Camponês de Bico, e, no intervalo dos espectáculos, tocava sozinho umas modinhas para deleite do público. Eram tempos em que se ouviam músicas tais como: o Vira de Roda, os passos Manuel da Horta, Laurentina, a Chula do Salto (Bento ainda se lembra dos mais antigos a ensinar a dança desta música, durante um dos muitos ensaios do agrupamento), a Serrinha (com a sua letra dedicada ao Monte de Corno de Bico: Ó serra, serrinha/ Do alto da serra/ Tu és a mais linda/ Cá da nossa terra), entre muitas. Duas delas leitor, porque acho importante, e porque estão incluídas no seu trabalho discográfico, vou explica-las pormenorizadamente. Lembras-te quando falei da união das freguesias? Pois bem, nessa altura (1959) foi criada uma música para apresentação em palco, que era a Marcha do Alto-Coura, música essa que anda um pouco esquecida! A segunda música de que te falo é a Chula do Maia, bastante conhecida a nível concelhio, mas pouco fora dele. Esta música é caracterizada pelo forte timbre de voz feminino e pelo prolongamento quase exaustivo da voz durante a entoação das quadras, ora isto deve-se, caro leitor, à necessidade das pessoas antigamente se comunicarem de campo para campo, de monte para monte, o que levou a esta, tão particular, Chula do Maia. Durante as gravações do seu trabalho discográfico, contavam-me as Sras. cantadeiras, “Maria e São do Costa”, respectivamente mãe (86 anos) e filha, que aquando das gravações do antigo Grupo Camponês, nunca a Chula do Maia foi gravada por dificuldade dos técnicos em registar adequadamente esta música tão característica do Alto-Coura.
Mestre Bento ensina
Mas voltemos à vida de Bento. A adolescência e mocidade, foi fértil em bailes de aldeia, ao som das concertinas, pelo que adquiriu um óptimo reportório de música tradicional. Durante esses bailaricos, fez dançar muitos da sua geração, e não só, também conseguiu captar números musicais bastante interessantes, que ainda hoje presenteia a quem o ouve. Fala muitas vezes da coreografia da música “Baião da Ana “. Era ainda um jovem adulto quando, como muitos portugueses, foi cumprir o serviço militar obrigatório em África. Este é um episódio, que não o vemos muitas vezes recordar. Depois da vinda do Ultramar, continuou a servir o Folclore, e em Agosto de 1975, quando surge o Rancho Folclórico de Cristelo, actualmente extinto, Bento Macedo começou a fazer parte da sua tocata. Mas, o seu bairrismo falava mais alto. Quando em 1982 se fundou a Associação Cultural Recreativa de Vascões, de onde nasceu o Grupo Folclórico do Alto-Coura, Bento Macedo assumiu a função de tocador, que se prolongaria por 21 anos. Deste agrupamento tem muitas recordações, como sendo as muitas actuações, os bons momentos de convívio e algumas gravações conjuntas com outros tocadores. Em 2000, amigo leitor, deu-se um importante episódio, tanto na vida de Bento, como, e arrisco-me a dizê-lo, na História do concelho, com a disponibilidade do Mestre de transmitir os conhecimentos de concertina. Hoje em dia, mestre Bento percorre várias localidades do concelho, e não só, para dar aulas de concertina em diversas associações culturais, tendo já um número significativo de aprendizes de todas as idades, com um grau de aprendizagem elevado. A Mestre Bento se deve o ressuscitar de velhos toques de concertina em Paredes de Coura. Há muito que era desejo de Mestre Bento, gravar um trabalho discográfico. Com a ajuda de alguns alunos, de Mário Correia do Centro de Música Tradicional de Sendim e da editora Sons da Terra, a 8 de Março de 2003, ficaram registados 13 temas. A 14 de Fevereiro de 2005, num ambiente de grande festa, Bento Macedo viu o sonho tornado realidade, com o lançamento público do seu CD, actualmente esgotado. Termino. Quanto a ti leitor, não fiques por aqui: vai conhecer a Giesteira, vai descobrir a maravilhosa paisagem da Área de Paisagem Protegida do Corno de Bico. Aproveita e passa pelo lugar de Aldeia, onde habita Mestre Bento, vai conhecê-lo, ouve as suas histórias, ouve as suas músicas…
Eduardo Cerqueira [texto] - Artigo publicado na revista Tempo Livre n.º 172
10 de Julho de 2010
Grupo Folclórico Camponês de Bico
13 de Junho de 2010
Grupo Folclórico Camponês de Bico
Rancho Folclórico Camponês de Bico
13 de Junho de 2010
13 de Junho de 2010
Grupo Folclórico Camponês de Bico
Guardião das danças e cantares, dos trajes e tradições de antanho, assistimos no passado domingo 13 de Junho, durante o Festival de Folclore integrado na Feira Mostra de Paredes de Coura, a uma excelente exibição do Rancho Folclórico Camponês de Bico.
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